Futebol, quantas alegrias já me
trouxe!
Costumo dizer que
as mais puras e intensas alegrias da minha vida vieram do futebol. Tive
inúmeras outras alegrias, é claro, mas nenhuma tão gratuita e intensa como as
que o futebol me proporciona desde 1958, quando tinha seis anos de idade.
Em 1958 fomos
campeões do mundo pela primeira vez, e podem me perguntar que sei ainda todinho
o Hino da Seleção daquele ano. A Copa de 58 foi o momento de revelação do
futebol, para mim e as imagens mais fortes daqueles dias de Copa são do meu
pai, de ouvido encostado no rádio, e explodindo em gritos de gol quando
chegávamos a ele. Eu só tinha seis anos e ainda nada sabia de futebol, mas
gritava junto com meu pai, e sentia nascer em mim a primeira emoção violenta da
vida. Naquela época, ouvia-se o jogo pelo rádio, via-se as fotos dos gols uma
semana depois, na revista O Cruzeiro, e, se tivesse sorte, uns dois meses
depois podia-se ver os gols no cinema, no jornal que era apresentado antes dos
filmes.
Outra das imagens
que ficou da Copa de 58 foi uma foto na revista, onde Pelé, menino de 16 anos,
aparecia abraçado com duas suecas loiríssimas. Para a tacanha mentalidade que
predominava em Santa Catarina, na época (e que continua por aí, por baixo dos
panos), aquilo era quase um atentado ao pudor. Duas loiras terem a coragem de
abraçar um negro? O comentário mais sóbrio dizia que elas não tinham vergonha
na cara. Estava fora de cogitação os adultos da época pensarem na probabilidade
de algum dia, seus filhos e netos se miscigenarem com a gloriosa e alegre etnia
negra, que tanto adoçou o Brasil. O fato é que, hoje, as miscigenações estão
acontecendo vigorosamente, e deverão aumentar de intensidade no futuro, neste
país mestiço. E o menino Pelé, na época mais ou menos perdoado por seus gols
pela indecência de abraçar duas loiras, hoje é rei e tem incontestável
majestade e um dos orgulhos da minha família, por exemplo, é ter as fotos da
minha irmã Mariana, que é jornalista na África do Sul, entrevistando Pelé em
Johannesburgo.
Mas falávamos em
futebol, e atravessamos, ébrios de patriotismo, aqueles anos de 58 a 62. Em
1962 eu já tinha dez anos e o futebol tinha me fisgado de vez. De novo ouvi os
jogos pelo rádio- a televisão não tinha chegado ainda. Naquela Copa, porém,
minha alegria ficou um pouco acobertada pela surra que levei quando, num dos
gols do Brasil, pulei tanto sobre o sofá novo pé-de-palito que a minha mãe
acabara de ganhar, que quebrei o pé-de-palito do mesmo. Mas foi lindo ganhar;
ah! Como foi!
E aí chegamos em
1970, em plena época da televisão, e nunca mais vamos ter uma Seleção como
aquela!
Por mais que curta História, a minha grande admiração pelo México não
advém dos Maias e Astecas, mas do maravilhoso calor humano daquele povo que se
colocou, decididamente, a torcer pelo Brasil, depois que o seu país foi
eliminado da disputa. Maravilhosos mexicanos, vocês ficaram no meu coração! Na
ocasião, eu tinha 18 anos, mas formei um firme propósito: não morrer antes de
ver o Brasil campeão de novo, tamanha foi a emoção que vivi. Tive que esperar
24 anos para que tal acontecesse, tive que amargar todas as derrotas do
intervalo, mas tinha a certeza de que não iria morrer antes de reviver a
intensidade da alegria. Esperei 94 do mesmo jeito que esperara todas as outras
copas: de camisa da Seleção, bandeiras na varanda, um monte de simpatias para
dar sorte, e coração pulsando na mão. Pode rir quem quiser, mas sou daquelas
torcedoras que ouve o Hino Nacional de pé e em silêncio, na frente da
televisão, e quase tem um infarto a cada jogada. Em 94, gravei todos os jogos
da nossa seleção, e aquelas fitas são, hoje, a minha certeza de alegria e de
bom humor. Quando alguma coisa não vai bem, quando surgem os problemas e fica
difícil sair do baixo astral, eu revejo um dos jogos da World Cup. Não demora
muitos minutos para que eu esteja rindo sozinha igual a uma boba, na frente da
televisão, o coração aquecido pela mais prura e intensa alegria.
Minha meta foi
atingida: vi o Brasil campeão mais uma vez. Só que agora não quero morrer sem
ver o Brasil campeão de novo.
Ah! Futebol,
quantas alegrias já me trouxe!
(Urda Alice Klueger.
Escritora e Historiadora, nasceu em Blumenau – SC -1952)
esse texto e muito legal pois ele mostra q não são apenas homens que gostam de futebol,mulheres tambem gostam!Bjss Prof! Felipe 7ºa
ResponderExcluirBjs Felipe! Parabéns pelos comentários!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirmuito bom eu amei esse texto foi o mais interessante que eu já li
ResponderExcluirpois fala de vários assuntos importante como, o preconceito, a copa e de
futebol... BJS Prof! Camila 7 A
Nossa Professora Adorei Essa Cronica...
ResponderExcluirPrincipalmente Porque Mostra Que Nós Mulheres Também Podemos Curtir o Futebol.
Legal Também o Conteúdo Dessa Crônica..
Parabéns Professora o Blog Esta Muito Criativo. *--*
De : Thais De Fatima
Serie : 7 Serie A
Numero : 40
Interessante esta cronica nos mostra que as mulheres também conseguem fazer as mesmas atividades que os homens fazem.
ResponderExcluirPaloma
7D
Numero:46