domingo, 20 de julho de 2014

Futebol, quantas alegrias já me trouxe! - Crônica de Urda Klueger

Futebol, quantas alegrias já me trouxe!

Costumo dizer que as mais puras e intensas alegrias da minha vida vieram do futebol. Tive inúmeras outras alegrias, é claro, mas nenhuma tão gratuita e intensa como as que o futebol me proporciona desde 1958, quando tinha seis anos de idade.

Em 1958 fomos campeões do mundo pela primeira vez, e podem me perguntar que sei ainda todinho o Hino da Seleção daquele ano. A Copa de 58 foi o momento de revelação do futebol, para mim e as imagens mais fortes daqueles dias de Copa são do meu pai, de ouvido encostado no rádio, e explodindo em gritos de gol quando chegávamos a ele. Eu só tinha seis anos e ainda nada sabia de futebol, mas gritava junto com meu pai, e sentia nascer em mim a primeira emoção violenta da vida. Naquela época, ouvia-se o jogo pelo rádio, via-se as fotos dos gols uma semana depois, na revista O Cruzeiro, e, se tivesse sorte, uns dois meses depois podia-se ver os gols no cinema, no jornal que era apresentado antes dos filmes.

Outra das imagens que ficou da Copa de 58 foi uma foto na revista, onde Pelé, menino de 16 anos, aparecia abraçado com duas suecas loiríssimas. Para a tacanha mentalidade que predominava em Santa Catarina, na época (e que continua por aí, por baixo dos panos), aquilo era quase um atentado ao pudor. Duas loiras terem a coragem de abraçar um negro? O comentário mais sóbrio dizia que elas não tinham vergonha na cara. Estava fora de cogitação os adultos da época pensarem na probabilidade de algum dia, seus filhos e netos se miscigenarem com a gloriosa e alegre etnia negra, que tanto adoçou o Brasil. O fato é que, hoje, as miscigenações estão acontecendo vigorosamente, e deverão aumentar de intensidade no futuro, neste país mestiço. E o menino Pelé, na época mais ou menos perdoado por seus gols pela indecência de abraçar duas loiras, hoje é rei e tem incontestável majestade e um dos orgulhos da minha família, por exemplo, é ter as fotos da minha irmã Mariana, que é jornalista na África do Sul, entrevistando Pelé em Johannesburgo.

Mas falávamos em futebol, e atravessamos, ébrios de patriotismo, aqueles anos de 58 a 62. Em 1962 eu já tinha dez anos e o futebol tinha me fisgado de vez. De novo ouvi os jogos pelo rádio- a televisão não tinha chegado ainda. Naquela Copa, porém, minha alegria ficou um pouco acobertada pela surra que levei quando, num dos gols do Brasil, pulei tanto sobre o sofá novo pé-de-palito que a minha mãe acabara de ganhar, que quebrei o pé-de-palito do mesmo. Mas foi lindo ganhar; ah! Como foi!
E aí chegamos em 1970, em plena época da televisão, e nunca mais vamos ter uma Seleção como aquela! 

Por mais que curta História, a minha grande admiração pelo México não advém dos Maias e Astecas, mas do maravilhoso calor humano daquele povo que se colocou, decididamente, a torcer pelo Brasil, depois que o seu país foi eliminado da disputa. Maravilhosos mexicanos, vocês ficaram no meu coração! Na ocasião, eu tinha 18 anos, mas formei um firme propósito: não morrer antes de ver o Brasil campeão de novo, tamanha foi a emoção que vivi. Tive que esperar 24 anos para que tal acontecesse, tive que amargar todas as derrotas do intervalo, mas tinha a certeza de que não iria morrer antes de reviver a intensidade da alegria. Esperei 94 do mesmo jeito que esperara todas as outras copas: de camisa da Seleção, bandeiras na varanda, um monte de simpatias para dar sorte, e coração pulsando na mão. Pode rir quem quiser, mas sou daquelas torcedoras que ouve o Hino Nacional de pé e em silêncio, na frente da televisão, e quase tem um infarto a cada jogada. Em 94, gravei todos os jogos da nossa seleção, e aquelas fitas são, hoje, a minha certeza de alegria e de bom humor. Quando alguma coisa não vai bem, quando surgem os problemas e fica difícil sair do baixo astral, eu revejo um dos jogos da World Cup. Não demora muitos minutos para que eu esteja rindo sozinha igual a uma boba, na frente da televisão, o coração aquecido pela mais prura e intensa alegria.

Minha meta foi atingida: vi o Brasil campeão mais uma vez. Só que agora não quero morrer sem ver o Brasil campeão de novo.

Ah! Futebol, quantas alegrias já me trouxe!

(Urda Alice Klueger. Escritora e Historiadora, nasceu em Blumenau – SC -1952)

6 comentários:

  1. esse texto e muito legal pois ele mostra q não são apenas homens que gostam de futebol,mulheres tambem gostam!Bjss Prof! Felipe 7ºa

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  2. muito bom eu amei esse texto foi o mais interessante que eu já li
    pois fala de vários assuntos importante como, o preconceito, a copa e de
    futebol... BJS Prof! Camila 7 A

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  3. Nossa Professora Adorei Essa Cronica...
    Principalmente Porque Mostra Que Nós Mulheres Também Podemos Curtir o Futebol.
    Legal Também o Conteúdo Dessa Crônica..
    Parabéns Professora o Blog Esta Muito Criativo. *--*

    De : Thais De Fatima
    Serie : 7 Serie A
    Numero : 40

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  4. Interessante esta cronica nos mostra que as mulheres também conseguem fazer as mesmas atividades que os homens fazem.
    Paloma
    7D
    Numero:46

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